Como se mede a maturidade artística de uma banda? Seria pela capacidade de revisitar temas antigos sob novas perspectivas? Ou talvez pela ousadia de explorar territórios musicais desconhecidos sem perder a identidade? Com “Clancy”, Twenty One Pilots oferece uma resposta multifacetada, rica em nuances e repleta de camadas sonoras e narrativas.
O Twenty One Pilots retorna ao Brasil com três shows da turnê do disco “Clancy”; para mais informações, clique aqui.

Lançado em 24 de maio de 2024, o sétimo álbum de estúdio da dupla encerra a narrativa conceitual de “Blurryface” enquanto desafia expectativas. Escrito por Tyler Joseph e produzido por Paul Meany, o disco não é apenas uma coleção de músicas, mas um exercício de reinvenção artística. Da introdução atmosférica de “Overcompensate” até o lirismo introspectivo de “At the Risk of Feeling Dumb”, “Clancy” provoca o ouvinte com sua mistura de familiaridade e surpresa.
Musicalmente, o álbum é uma exploração arrojada do indie rock, com momentos que flertam com o revival pós-punk, como em “Navigating”. A faixa combina guitarras reverberantes a um refrão cativante, mostrando uma direção que, embora distinta, se conecta ao DNA da banda. Já “Midwest Indigo” explora a dicotomia entre melodias vibrantes e letras carregadas de melancolia, um contraste que é quase uma assinatura do duo. “At the Risk of Feeling Dumb” destaca-se pela construção narrativa e pelo uso surpreendente da guitarra distorcida, adicionando um elemento de crueza ao final.
Por outro lado, a incursão no pop e hip hop entrega momentos de brilho, como “Overcompensate”, que se destaca pela produção sofisticada e pelas camadas sonoras que crescem de forma orgânica. Samples que remetem ao hip hop old school brilham em “Lavish”, uma faixa que alia inteligência lírica a uma vibe descontraída. Mesmo com momentos menos inspirados, como “Routines in the Night”, que parece um retrocesso ao emo pop dos anos 2010, o álbum consegue sustentar sua narrativa sonora.
O disco reflete o amadurecimento pessoal de Tyler Joseph. A mudança de foco de suas próprias lutas internas para uma visão mais ampla, quase como um conselheiro que revisita a tempestade com serenidade, é evidente. O álbum transcende o espaço autobiográfico e incentiva o ouvinte a olhar para si mesmo e para os outros, promovendo reflexões sobre saúde mental com a sensibilidade de quem já percorreu o caminho.
Nota final: 80/100