O asfalto do Daytona International Speedway, normalmente dominado pelo rugido de motores de alta potência, cedeu lugar ao estrondo de amplificadores e à energia frenética de milhares de headbangers durante o Welcome to Rockville 2025. O festival, que já se consolidou como um dos principais eventos do calendário do rock estadunidense, encerrou sua edição deste ano deixando uma trilha de momentos memoráveis que merecem ser eternizados nas páginas da história do rock.
Green Day: Punk Rock em estado puro

A noite de sexta-feira (16 de maio) no Daytona International Speedway pertenceu ao Green Day. Headliners do segundo dia do festival, Billie Joe Armstrong, Mike Dirnt e Tré Cool provaram por que são considerados uma das bandas de punk rock mais importantes da história, com uma performance explosiva que começou pontualmente às 22h15.
Antes mesmo de subirem ao palco, a multidão já estava em êxtase com a tradicional introdução que mistura “Bohemian Rhapsody” do Queen e “Blitzkrieg Bop” dos Ramones, criando o clima perfeito para a entrada triunfal da banda. O trio abriu o show com “American Idiot”, provocando uma reação instantânea da plateia que transformou o autódromo em um mar de corpos saltitantes e vozes em uníssono.
O setlist do Green Day no Welcome to Rockville foi uma verdadeira celebração de sua carreira, equilibrando perfeitamente hits de diferentes fases. De “Holiday” e “Boulevard of Broken Dreams” a “Know Your Enemy”, a banda manteve a energia no máximo durante toda a apresentação. Um dos momentos mais emocionantes veio com “Welcome to Paradise”, quando Armstrong interrompeu brevemente a música para declarar: “Bem-vindos ao paraíso, Flórida! Este é o verdadeiro Welcome to Rockville!“
A banda encerrou sua apresentação com “Good Riddance (Time of Your Life)”, deixando a mensagem de que, mesmo após décadas de carreira, o Green Day continua sendo uma força vital no cenário do rock, capaz de unir gerações sob o mesmo hino.
Linkin Park: O Retorno Triunfal

A noite de sábado (17 de maio) foi marcada pelo aguardado show do Linkin Park, uma das apresentações mais esperadas do festival. Após a reformulação da banda e o lançamento de seu novo álbum “From Zero”, esta foi uma das primeiras grandes performances do grupo em um festival americano, atraindo uma multidão recorde para o palco principal.
Às 22h25, as luzes se apagaram e o palco foi tomado pela “Inception Intro A”, uma introdução atmosférica que incorporou elementos de “The Requiem”, “Castle of Glass”, “In The End” e “Numb”, criando uma colagem sonora que representou perfeitamente a evolução musical do grupo ao longo dos anos.
O Linkin Park abriu seu set com “Somewhere I Belong”, provocando uma explosão de energia na plateia. A química entre Mike Shinoda e Emily Armstrong ficou evidente desde os primeiros momentos, com a nova vocalista demonstrando respeito pelo legado da banda enquanto imprimia sua própria personalidade às canções clássicas.
Um dos momentos mais comentados da noite foi a performance de “Crawling”, onde Armstrong entregou uma interpretação visceral que arrancou lágrimas de muitos fãs.
A inclusão de “Two Faced” e “The Emptiness Machine” do novo álbum mostrou que a banda não está apenas revisitando seu passado, mas construindo ativamente seu futuro. A resposta entusiástica do público a estas novas faixas foi um testemunho do sucesso desta nova fase.
O show atingiu seu clímax com “The Catalyst”, executada com uma intensidade avassaladora que transformou o Daytona International Speedway em um caldeirão de emoções. A banda encerrou sua apresentação com “Bleed It Out”, deixando claro que, entregaram tudo que podem em cima do palco!
Three Days Grace: A reunião que todos esperavam

Uma das histórias mais emocionantes do Welcome to Rockville 2025 foi, sem dúvida, a reunião do Three Days Grace com seu vocalista original, Adam Gontier. Após 11 anos de separação, a banda subiu ao palco Octane na quinta-feira (15 de maio) às 18h55, para uma das performances mais aguardadas do festival.
O anúncio desta reunião, feito meses antes do festival, já havia gerado enorme expectativa entre os fãs. “THREE DAYS GRACE está se reunindo com Adam Gontier no Welcome To Rockville 2025! Após 11 anos separados, o vocalista fundador Adam Gontier voltou à banda”, dizia o comunicado oficial que circulou nas redes sociais, gerando milhares de compartilhamentos e comentários entusiasmados.
Quando as primeiras notas de “Animal I Have Become” ecoaram pelo autódromo, a reação da multidão foi ensurdecedora. Gontier, visivelmente emocionado, entregou uma performance que combinava a intensidade de seus primeiros dias com a maturidade adquirida em sua carreira solo.
“Nunca pensei que estaria aqui novamente”, confessou o vocalista entre músicas, “mas algumas coisas são maiores que nós mesmos. Esta banda, estas músicas, vocês… tudo isso é maior que qualquer diferença que poderíamos ter.”
O setlist foi uma celebração da era clássica do Three Days Grace, com ênfase nos três primeiros álbuns que definiram o som da banda. “I Hate Everything About You”, “Just Like You” e “Never Too Late” foram recebidas com coros massivos da plateia, criando momentos de comunhão entre banda e público que transcenderam a simples nostalgia.
Um dos momentos mais poderosos veio com “Pain”, quando Gontier e o atual vocalista Matt Walst (que permanece na banda) dividiram os vocais, simbolizando a união do passado e do presente do Three Days Grace. Esta dinâmica única, onde dois vocalistas compartilharam o palco em perfeita harmonia, ofereceu aos fãs uma experiência verdadeiramente singular.
A banda encerrou sua apresentação com “Riot”, transformando o Daytona International Speedway em um verdadeiro turbilhão de energia. Mais que uma simples reunião, o show do Three Days Grace no Welcome to Rockville 2025 representou um momento de cura e celebração para uma das bandas mais influentes do rock moderno.
Korn: A força primordial do Nu Metal

Fechando o festival com chave de ouro no domingo (18 de maio), o Korn trouxe toda a intensidade e peso que os transformaram em ícones do nu metal. Headliners do último dia, a banda liderada por Jonathan Davis subiu ao palco às 22h00, para uma performance que sacudiu as fundações do Daytona International Speedway.
O show começou com “Blind”, provocando uma reação instantânea da multidão que se transformou em um dos maiores circle pits já vistos no festival. A energia bruta continuou com “Twist”, onde Davis demonstrou que sua capacidade vocal única permanece intacta, entregando seus característicos vocais guturais com a mesma intensidade de sempre.
O Korn apresentou um setlist que abrangeu toda sua carreira, com ênfase em clássicos como “Falling Away From Me”, “Got the Life” e “Clown”. A seção rítmica formada por Ray Luzier na bateria e Fieldy no baixo criou uma fundação sólida para os riffs distorcidos de Head e Munky, enquanto Davis comandava o palco com sua presença magnética.
Um dos momentos mais memoráveis veio durante “Shoots and Ladders”, quando Davis trouxe sua icônica gaita de foles para o palco, criando um contraste fascinante entre o instrumento tradicional escocês e o peso esmagador da banda.
“A.D.I.D.A.S.” e “Coming Undone” mantiveram a energia no máximo, com a plateia pulando em uníssono e criando uma visão impressionante do alto do autódromo. Davis, entre músicas, expressou sua gratidão por estar encerrando o festival: “Welcome to Rockville, vocês são fodas! Não consigo imaginar um lugar melhor para encerrar este festival do que aqui com vocês!”
A banda encerrou sua apresentação com uma sequência devastadora que incluiu “Here to Stay”, “Twisted Transistor” e “Start the Healing”, demonstrando tanto seu legado quanto sua relevância contínua. Quando os últimos acordes de “Freak on a Leash” ecoaram pela noite floridiana, ficou claro que o Korn continua sendo uma força primordial no cenário do metal, capaz de canalizar angústia e agressão em uma experiência catártica coletiva.
Shinedown e Lynyrd Skynyrd: quando lendas se encontram
Em um momento que certamente ficará gravado na memória dos fãs presentes, o Shinedown transformou sua tradicional performance de “Simple Man” em algo verdadeiramente extraordinário. A banda, que já interpretou a clássica canção do Lynyrd Skynyrd centenas de vezes ao longo dos anos, decidiu elevar a experiência a outro patamar durante sua apresentação de encerramento no festival.
Em um golpe de mestre que misturou nostalgia e respeito às raízes do rock sulista, Brent Smith interrompeu a performance logo no início, criando um momento de suspense ao declarar: “Algo não parece certo. Algo está um pouco estranho. Quero dizer, estamos na Flórida, não estamos?”. O vocalista então anunciou a presença de Rickey Medlocke e Johnny Van Zant, membros do lendário Lynyrd Skynyrd, que subiram ao palco para uma interpretação conjunta que fez o público entrar em êxtase.
Van Zant assumiu os vocais principais enquanto Medlocke abriu a canção na guitarra, antes que Smith e o restante do Shinedown se juntassem à celebração. Um encontro de gerações que simboliza perfeitamente o espírito de comunidade e continuidade que mantém viva a chama do rock.
Pilotos de corrida como roadies: Quando mundos colidem
Em uma das colaborações mais inusitadas do festival, o piloto de NASCAR Daniel Suarez e o motociclista da Harley-Davidson James Rispoli trocaram temporariamente suas máquinas de corrida por cabos de microfone e equipamentos de palco. A dupla de profissionais das pistas serviu como roadies para o Shinedown antes de sua apresentação principal, em um intercâmbio cultural que beneficiou ambas as partes.
“É como um lugar completamente diferente”, comentou Suarez à emissora Orlando’s News 6, impressionado com a transformação do autódromo em um templo do rock. “Tem sido uma ótima experiência, e estou aproveitando muito.”
Os pilotos moveram equipamentos, enrolaram cabos de microfone e fotografaram algumas das bandas durante o dia no autódromo. Mas, como era de se esperar, não conseguiram ficar longe de sua verdadeira vocação por muito tempo. Suarez e Rispoli acabaram participando de uma improvisada corrida de carrinhos de golfe ao redor do pit row, com Zach Myers do Shinedown também entrando na brincadeira.
“O dia de hoje tem sido surreal”, declarou Rispoli. “Tem sido incrível ver como as bandas trabalham e encontrar alguns dos meus heróis de infância. Esta tem sido uma experiência incrível, vir a Daytona e fazer parte disso.”
A Coke Zero Sugar 400 acontecerá em agosto, com Suarez agora mais familiarizado com o circuito após sua experiência no Welcome to Rockville.
Halestorm revela o futuro: Prévia exclusiva de “Everest”
Os fãs do Halestorm foram presenteados com uma generosa amostra do que está por vir no próximo álbum da banda, “Everest”, previsto para lançamento em 8 de agosto. Em um set de 11 músicas, a banda liderada por Lzzy Hale dedicou quase metade de sua apresentação a material inédito, demonstrando confiança absoluta em seu novo trabalho.
O show começou com a estreia ao vivo de “Fallen Star”, estabelecendo imediatamente o tom para uma noite de novidades. Ao longo da apresentação, o grupo também apresentou pela primeira vez “WATCH OUT!”, “Rain Your Blood” e encerrou com a faixa-título “Everest”. Esta performance também marcou a primeira vez que a banda completa executou “Darkness Always Wins” em um ambiente ao vivo.
A decisão de apresentar tantas músicas novas em um festival desse porte é uma jogada ousada que poucos artistas se arriscam a fazer. Normalmente, os headliners preferem apostar em repertórios seguros, repletos de hits conhecidos. A confiança do Halestorm em seu novo material sugere que “Everest” pode representar um novo pico na carreira da banda, que continua a se reinventar e expandir seu som sem perder sua essência.
We Came As Romans surpreende com estreia ao vivo
O We Came as Romans aproveitou sua passagem pelo Welcome to Rockville para presentear os fãs com a estreia mundial de uma nova música. “Estamos nos divertindo tanto que acho que vamos tocar uma música totalmente nova que nunca foi lançada ou tocada antes. O que vocês acham disso?”, provocou o vocalista Dave Stephens antes de introduzir a faixa.
A banda, que lançou seu último álbum “Darkbloom” em 2022, tem dado sinais de que novo material está a caminho, com o lançamento do single “Bad Luck” no início deste ano e agora com a introdução de “No Rest for the Dreamer” ao vivo no festival.
A nova música abre com uma parede esmagadora de guitarra pulsante e vocais intensos, mantendo a assinatura sonora da banda enquanto explora novos territórios. A escolha do Welcome to Rockville para esta estreia demonstra o respeito que o grupo tem pelo festival e seu público, oferecendo algo exclusivo que nem mesmo os fãs mais dedicados haviam experimentado antes.
Shannon Larkin retorna as origens com snot
Em um movimento que gerou grande expectativa entre os fãs do rock alternativo dos anos 90, o ex-baterista do Godsmack, Shannon Larkin, assumiu as baquetas para a recém-reunida banda Snot durante sua apresentação no Welcome to Rockville. Larkin substituiu Jamie Miller, que estava em turnê com o Bad Religion na Espanha e não conseguiu retornar a tempo devido ao conflito de agenda.
Larkin e o guitarrista Tony Rombola anunciaram suas saídas do Godsmack no início deste ano, após mais de duas décadas com a banda. O retorno de Larkin ao Snot representa um círculo completo em sua carreira, conectando seu presente com seu passado musical.
A performance energética da banda, capturada em vídeos amadores compartilhados nas redes sociais, mostrou que o tempo não diminuiu em nada a intensidade e a relevância do som do Snot, que continua a influenciar novas gerações de músicos no cenário do metal alternativo.
O público como protagonista: Momentos inesquecíveis nas arquibancadas
Como sempre acontece nos grandes festivais, o público do Welcome to Rockville 2025 contribuiu com sua própria dose de entretenimento e momentos memoráveis. Um dos destaques foi um “vovô” que foi carregado pela multidão em crowd surfing enquanto ainda estava em seu scooter durante a apresentação do Bullet for My Valentine.
“Obrigado, vovô, por nos mostrar como é viver a vida ao máximo e alcançar o impossível!!!!!,” comentou um fã que postou uma foto do momento no Reddit. “Aposto que os seguranças lá na frente estavam pensando ‘Que diabos é isso'”, acrescentou outro, enquanto um terceiro compartilhou: “Ele chegou até a frente também, os caras do BFMV estavam sorrindo.”
Enquanto isso, um casal aparentemente ficou noivo durante o set do Motionless in White. O momento especial aconteceu, apropriadamente, durante a performance da banda de “Eternally Yours”, adicionando uma camada extra de significado à já emotiva canção.
Méritos devem ser dados também aos organizadores do Welcome to Rockville, que demonstraram preocupação genuína com o bem-estar dos participantes durante um final de semana extremamente quente. Além de disponibilizarem estações gratuitas de reabastecimento de água por todo o local, eles também reduziram os preços da água engarrafada de $4,50 para $2 em todos os bares localizados ao redor do circuito do festival à medida que as temperaturas começaram a subir.




O legado continua
O Welcome to Rockville 2025 não foi apenas mais um festival de rock; foi uma celebração da vitalidade e da relevância contínua de um gênero musical que muitos já declararam morto inúmeras vezes. Das colaborações inesperadas às estreias mundiais, das performances lendárias aos momentos de pura espontaneidade do público, o evento provou mais uma vez por que se tornou um pilar essencial no calendário anual do rock.
Enquanto o sol se põe sobre o Daytona International Speedway e as últimas notas de guitarra se dissipam no ar quente da Flórida, os fãs já começam a especular sobre o que o próximo ano reserva. Uma coisa é certa: o espírito do rock and roll continua vivo e pulsante, e o Welcome to Rockville continua sendo um de seus mais importantes santuários.