Veja a história que Digão (vocalista e guitarrista do Raimundos) contou para o livro Contos do Rock:
O ano de 94 foi muito importante para o Raimundos. Foi o ano da gravação do primeiro disco da banda, logo conseguiram um mega empresário, O Muniz, o cara que fazia o Monsters of Rock. Ele fez o Raimundos realmente acontecer. O maior presente para a banda foi o cara arrumar uma turnê com o Ramones e o Sepultura. A Banda era muito fã dos Ramones, no segundo dia de tour, no hotel, o pessoal falava que o Johnny Ramone era um cara muito fechado. Segundo Digão, ele sentou com o cara e conversou umas duas horas.
Na passagem de som, ele estava lá amarradão. Já tinha conversado com o cara, então já tinha criado uma certa amizade. O johnny estava lá, com seus trinta anos de rock and roll, sentado, o roadie dele passando a guitarra, o CJ do outro lado passando o baixo, e o Marky passando a bateria. De Repente o Johnny chamou o Digão e o convidou a pegar a guitarra, o cara não acreditou.
“Ele mostrou a guitarra branca dele, aquela mais antiga, mais lenhada, mais emblemática dos Ramones. E eu: Que é isso, cara? Comecei a tremer na hora. E ele dizendo: “Não, quero ver você tocar”. Aí eu vou, né. Botei a guitarra, assim… pô, o cara tem dois metros de altura, botei a guitarra e ela foi parar debaixo do meu joelho. E eu desesperado, agachei, peguei a guitarra todo sem graça, não sabia o que fazer. Aí ele falou: “Toca uma música aí”. E eu sei várias, né, só que daí deu um bug…. Aí eu lembrei de I wanna live, porque começa com a introdução da guitarra. Pô, aí abriu o volume, aquela guitarra mais velha, e eu pensei: Caralho, que é isso velho…
Beleza, fiz a introdução certinha, comecei a tocar. O CJ começou a me acompanhar, de repente eu tava tocando com o Ramones na passagem de som. Isso aí é o maior sonho para um moleque como eu. A gente tocando e o Johnny ali, se amarrando. Aí quando eu fui para o refrão, o CJ, que é acostumado a tocar com o Johnny, se embananou e errou. Ah, meu irmão.. O Johnny, levantou, olhou pro CJ e falou: “Você toca há não sei quantos anos nessa banda, e o cara aqui sabe e você não sabe?”. Tirou a maior onda, e eu não sabia onde é que me enfiava. E o mais engraçado velho, não tinha ninguém filmando, tirando uma foto, mas eu tenho tudo tão claro na minha mente. É uma coisa que eu jamais vou esquecer. Eu lembro de tudo naquele dia. De tudo que aconteceu. E ele ainda me zoou, né, porque eu toco pra baixo e pra cima, e ele não, só toca pra baixo. Aí eu: “Ah, a gente é os Raimundos, né” “