O The Cult subiu ao palco do Vibra São Paulo na noite de domingo (23) para celebrar quatro décadas de carreira com um show que alternou momentos de intensidade e introspecção. A turnê comemorativa da banda britânica tem se apoiado na força de seus clássicos, e foi exatamente neles que a noite encontrou seus pontos altos. Para cerca de quatro mil pessoas, Ian Astbury e Billy Duffy comandaram uma apresentação sem grandes artifícios visuais, mas carregada do peso sonoro que os consolidou como referência do hard rock.

A noite começou com “In The Clouds”, uma escolha menos óbvia, lançada em 1996, que serviu como uma introdução sombria para o repertório que se desenrolaria. O público, ainda se ajustando ao clima da apresentação, oscilava entre a contemplação e a entrega, com a resposta mais efusiva reservada para os sucessos que marcaram época. “She Sells Sanctuary” e “Love Removal Machine”, que encerraram o show no bis, foram recebidas com entusiasmo e gritos, mostrando que a conexão emocional com a banda permanece viva.
Astbury, como de costume, não economizou na performance visceral. Sua voz segue potente aos 62 anos, e sua presença de palco mistura intensidade e provocação. Em determinado momento, cutucou a plateia questionando se estavam em “Kansas City” ou em São Paulo, cobrando uma energia mais explosiva do público. Mas, ao contrário de outras ocasiões, não se incomodou publicamente com a profusão de celulares que registravam cada momento da apresentação.
Ao lado dele, Billy Duffy reafirmou por que é um dos guitarristas mais subestimados do rock. Seus riffs cortantes e solos precisos foram o alicerce da apresentação, sustentados pelo baixista Charlie Jones e pelo baterista John Tempesta. O som, bem equalizado, manteve a clareza necessária para que cada instrumento brilhasse sem atropelos.
O setlist transitou entre diferentes fases da banda, mas revelou um padrão: as músicas menos conhecidas, como “Mirror”, do último álbum, tiveram recepção morna, enquanto os hits extraídos de “Sonic Temple” e “Love” incendiavam o público. Essa dinâmica de altos e baixos impediu que o show mantivesse um ritmo constante de empolgação, mas também reforçou a autenticidade da banda em não se render apenas ao apelo nostálgico.
A ausência de grandes elementos cênicos reforçou o foco na música, em um contraste interessante com os espetáculos superproduzidos que dominam a indústria do entretenimento. O The Cult entregou um show cru, direto e essencialmente rock’n’roll, do jeito que seus fãs esperam. Para quem esteve lá, foi uma oportunidade de ver uma banda que, mesmo após 40 anos, continua fazendo o que sabe de melhor: guitarras afiadas, vocais intensos e uma atmosfera carregada de misticismo e energia bruta.