
A relação entre arte e tecnologia ganhou um novo capítulo controverso. Daniel Ek, cofundador e CEO do Spotify, tem sido alvo de críticas intensas após investir cerca de 700 milhões de euros na Helsing, uma empresa alemã que desenvolve sistemas de defesa com uso de Inteligência Artificial (IA). O valor foi aplicado por meio da Prima Materia, empresa de investimentos criada por Ek em 2021 — mesmo ano de fundação da Helsing.
A empresa alemã desenvolve softwares que utilizam IA para analisar cenários de combate em tempo real. Com o novo aporte de 600 milhões de euros, anunciado recentemente, a Helsing pretende acelerar o desenvolvimento de seus produtos e expandir sua atuação em diversos países da Europa. Atualmente, já possui contratos com França e Alemanha.
O envolvimento de Ek com a indústria bélica gerou indignação entre músicos e gravadoras, que iniciaram um movimento de retirada de seus catálogos da plataforma como forma de protesto.
Entre os primeiros a se manifestar estão os integrantes da banda Deerhoof, que publicaram em suas redes sociais: “Não queremos que a nossa música mate pessoas. Não queremos que o nosso sucesso esteja ligado à tecnologia de batalha com IA.”
Os músicos australianos Leah Senior e Hugh F também decidiram remover suas obras do Spotify. Leah declarou em vídeo no Instagram que tem apoio de sua gravadora e reforçou: “Não quero que nenhuma música minha contribua para o desenvolvimento de armas de IA que ajudem homens nojentos no poder a oprimir, destruir e matar o nosso planeta.”
Hugh F destacou os impactos da decisão de Ek, criticando a plataforma por pagar mal aos artistas enquanto investe em armamentos: “O Spotify consolida seu poder, limita nossa conexão com o público e agora está financiando a guerra. Não quero fazer parte disso.”
O protesto também chegou às editoras. A gravadora Kalahari Oyster Cult, da Holanda, anunciou em 2 de julho que retirou todo seu catálogo do Spotify, alegando que manter sua música na plataforma seria “ir contra tudo o que defendemos”.
Apesar do impacto inicial estar concentrado em artistas independentes e gravadoras alternativas, o episódio levanta uma discussão mais ampla sobre ética empresarial, financiamento bélico e o papel da música em tempos de conflito.
Esse episódio também reacende o debate sobre os limites entre tecnologia e ideologia, especialmente em tempos em que discursos de nacionalismo e “proteção nacional” têm sido instrumentalizados por governos de extrema-direita na Europa e em outras partes do mundo. O financiamento massivo de ferramentas bélicas com inteligência artificial, sob o pretexto de defesa, levanta preocupações éticas profundas: quem define o inimigo? Qual o papel da indústria cultural em tempos de polarização e vigilância crescente? Para muitos artistas, continuar em uma plataforma liderada por alguém envolvido nesse cenário representa compactuar com valores que contradizem a liberdade de expressão e a paz social.