Eliza 
Ygor Monroe 
O Ratos de Porão, verdadeira instituição do punk e hardcore brasileiro, provou mais uma vez por que é uma das maiores bandas do país com uma apresentação furiosa no Knotfest 2024. Com décadas de estrada, o grupo segue sendo uma escolha certeira para festivais, seja como atração principal ou em eventos menores. A autenticidade dos Ratos é uma constante: cada show é uma nova experiência, sempre trazendo algo único para o público. Não importa quantas vezes você já os viu, a energia visceral e a conexão com a plateia permanecem intensas.
No Allianz Parque, em São Paulo, o público presente, composto por fãs de todas as idades se entregou de corpo e alma. Era possível ver tanto veteranos do punk quanto jovens descobrindo a potência da banda pela primeira vez, todos cantando em uníssono os clássicos que moldaram a cena brasileira. A chuva, que caiu forte durante o festival, só acrescentou mais intensidade à performance, sem diminuir a empolgação da plateia, que seguiu em transe do início ao fim.
A trajetória do Ratos de Porão é marcada por uma combinação de pioneirismo e reinvenção. Formada em 1981, a banda cresceu em meio à efervescente cena punk de São Paulo e, ao longo dos anos, solidificou-se como referência não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. Com mais de quatro décadas de carreira, o Ratos de Porão não apenas sobreviveu às mudanças na indústria musical, mas se reinventou ao incorporar elementos de crossover thrash e heavy metal, sem jamais perder a essência crítica e provocativa.
A evolução sonora e impacto cultural
A banda, liderada por João Gordo, passou por inúmeras fases musicais, desde o punk cru de seus primeiros álbuns até a fase mais agressiva do crossover thrash, que incluiu colaborações com ícones como Sepultura e produções internacionais. Álbuns como “Cada Dia Mais Sujo e Agressivo” (1987) e “Brasil” (1989) não apenas redefiniram o som da banda, mas também colocaram o Ratos de Porão no mapa global do metal extremo. A capacidade de navegar por diferentes estilos, sem perder a identidade, é o que garante sua longevidade e relevância.
O show no Knotfest 2024 foi um reflexo dessa jornada. Com um setlist recheado de clássicos, a banda abriu com a explosiva “Alerta Antifascista”, seguida por hinos como “Crucificados pelo Sistema” e “Amazônia Nunca Mais”. Cada música parecia canalizar o espírito de revolta que marca o som do Ratos desde o início, mas também trazia uma atualidade desconcertante, especialmente em um momento de tantas crises sociopolíticas. As letras, carregadas de críticas sociais, ressoaram alto entre o público, que não hesitou em transformar o Allianz em uma arena de resistência.
Setlist e conexão com o público
A escolha das faixas foi cirúrgica. Hits como “Farsa Nacionalista”, “Morrer” e “Aids, Pop, Repressão” transportaram o público de volta aos anos 80, quando o Brasil vivia um período de intensas transformações sociais. A conexão entre a banda e os fãs era explosiva, e João Gordo, com sua presença de palco poderosa, não economizou nos discursos afiados entre as músicas. Era mais do que apenas um show; foi uma reafirmação do legado do Ratos de Porão como uma banda que, além de fazer música, cria um espaço para reflexão e protesto.
O Knotfest 2024 certamente não será lembrado apenas pelas grandes bandas internacionais, mas também pela força arrebatadora de um dos maiores ícones do punk e metal nacional. O Ratos de Porão mostrou mais uma vez que, mesmo após mais de 40 anos de carreira, continuam a ser uma banda relevante, necessária e fundamental para a música brasileira.
