Pierce The Veil amplia alcance e reafirma relevância em São Paulo

Na noite de 16 de dezembro de 2025, São Paulo recebeu o último capítulo da turnê I Can’t Hear You World Tour com um Pierce The Veil em estado de plena maturidade artística. O Espaço Unimed, com capacidade para cerca de oito mil pessoas, simbolizou um salto concreto na trajetória da banda na cidade. Em 2023, a passagem havia ocorrido na Audio, diante de um público bem menor. Agora, o crescimento se materializou em números, estrutura e, principalmente, impacto emocional.

Pierce The Veil amplia alcance e reafirma relevância em São Paulo
Pierce The Veil amplia alcance e reafirma relevância em São Paulo

A apresentação encerrou um ciclo, mas evitou qualquer clima de nostalgia excessiva. O Pierce The Veil escolheu olhar para frente, reafirmando relevância dentro de uma cena que se reinventa constantemente. A resposta do público confirmou que a banda ocupa um espaço sólido e atual, distante da ideia de sobrevivência baseada em passado glorificado.

Antes da atração principal, o Health assumiu o palco como convidado da etapa sul-americana da turnê. Recém-saído do lançamento de “Conflict DLC”, o trio entregou um show intenso, enxuto e coerente com sua proposta estética. O rock industrial do grupo ganhou contornos quase hipnóticos, sustentados pela bateria acelerada de Benjamin Jared “BJ” Miller, pelo baixo pulsante de John Famiglietti e pelos vocais etéreos de Jake Duzsik.

Mesmo com iluminação econômica e ausência de elementos cenográficos, o Health construiu uma atmosfera própria, quase ritualística. Os breakdowns pesados, a sensação de rave orgânica e o uso proposital do Auto-Tune criaram uma experiência sonora densa, que encontrou receptividade em um público atento e curioso. O termo “cum metal”, abraçado com ironia pela banda desde “RAT WARS”, surge menos como provocação e mais como leitura honesta de um som que flerta com o eletrônico, o pop e o metal sem pedir permissão.

Quando o Pierce The Veil finalmente tomou o palco, pontualmente às 21h, a transformação foi imediata. A intro “El Rey”, de José Alfredo Jiménez, abriu caminho para um mar de celulares erguidos e olhos atentos. “Death of an Executioner” deixou claro, logo nos primeiros segundos, que o impacto físico do show seria parte central da experiência. O som reverberava no peito, a iluminação valorizava cada movimento e o palco ganhou vida.

Formado por Vic Fuentes, Tony Perry, Jaime Preciado e Loniel Robinson, o grupo apresentou uma performance coesa, energética e comunicativa. Jaime Preciado se destacou como motor visual do show, correndo de um lado para o outro, interagindo com a plateia e sustentando vocais de apoio com precisão. Loniel Robinson, vestindo a camiseta da seleção brasileira, trouxe peso, velocidade e leitura rítmica impecável, reforçando sua importância desde a entrada oficial na banda.

O repertório funcionou como um recorte inteligente da discografia. Faixas de “The Jaws of Life” dividiram espaço com momentos centrais de “Collide With The Sky” e com resgates de “A Flair For The Dramatic”. A escolha mostrou uma banda confortável com sua história, sem transformar o passado em muleta. Músicas recentes como “Pass the Nirvana” receberam reação tão intensa quanto clássicos como “Bull in the Bronx” e “King for a Day”.

Chamou atenção a fluidez com que diversas músicas foram emendadas. As transições sutis criaram blocos contínuos de emoção, quase como suítes ao vivo. Momentos como a ligação entre “I’m Low on Gas and You Need a Jacket” e “I’d Rather Die Than Be Famous”, além da pausa intimista em “She Makes Dirty Words Sound Pretty”, revelaram cuidado estético e domínio de dinâmica.

O público, majoritariamente jovem e feminino, respondeu com entrega vocal impressionante. Cada refrão foi cantado em uníssono, ainda que a movimentação física tivesse menos mosh pits do que a energia do palco sugeria. Mesmo assim, a conexão emocional se manteve constante, especialmente em faixas como “Hell Above”, “Circles” e “Hold On Till May”.

Pedidos por “Caraphernelia” surgiram ao longo da noite, insistentes e coletivos, mas a banda manteve firme a proposta do setlist. A ausência da música, assim como de “So Far So Fake”, reforçou a ideia de um show pensado como narrativa, com início, meio e fim bem definidos.

Vic Fuentes conduziu a apresentação com carisma silencioso. Sem longos discursos ou histórias entre as músicas, preferiu falas pontuais e precisas. Destacou o encerramento da turnê, dedicou “Emergency Contact” à equipe e provocou reflexão ao perguntar quantas vidas haviam sido tocadas pela música durante “Hold On Till May”. O palco virou espaço de escuta coletiva, mesmo em meio ao volume alto e à euforia.

O encerramento com “King for a Day” consolidou o tom da noite. Um show intenso, direto e emocionalmente carregado, que reafirmou o Pierce The Veil como força ativa na cena alternativa global. A banda cresceu junto com seu público e agora ocupa palcos maiores com naturalidade.

Mais do que fechar uma turnê, o grupo deixou claro que sua trajetória segue em movimento. Relevância, entrega e identidade definem este momento do Pierce The Veil, que sai de São Paulo maior do que chegou e com a certeza de um retorno ainda mais expressivo no futuro.

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