Ratos de Porão é uma banda que surgiu das profundezas do underground brasileiro nos anos 80, mais precisamente em 1981, em meio à fervilhante cena punk de São Paulo. Numa época em que o país ainda vivia sob a repressão da ditadura militar, o som cru e agressivo da banda, unido às letras que retratavam a realidade nua e crua das ruas, chamou atenção de um público que precisava de uma válvula de escape. Os primeiros acordes do RDP reverberaram em porões sujos, bares e casas de shows improvisadas, mas rapidamente ganharam uma legião de seguidores dispostos a abraçar o caos sonoro e ideológico da banda. O vocalista João Gordo, com seu carisma irônico e provocador, logo se tornou uma figura icônica do movimento punk e hardcore nacional, catapultando o grupo para um patamar único dentro do cenário.
Desde o começo, o Ratos de Porão nunca foi apenas uma banda de punk. Flertando com o hardcore, o crossover thrash e até mesmo o metal, eles criaram um som que, ao mesmo tempo em que honrava suas raízes punk, transcendia os limites de gênero. Se você gosta de metal, thrash ou punk, o RDP te oferece algo para curtir. Essa fusão de estilos e o desdém por rótulos fizeram com que a banda se tornasse uma pedra angular para várias gerações de fãs e músicos. Além disso, o Ratos de Porão foi uma das primeiras bandas brasileiras a lançar álbuns fora do país, levando sua mensagem politicamente carregada e visceral para audiências na Europa e nos Estados Unidos.
No que diz respeito aos hits, o repertório da banda é um verdadeiro soco no estômago, com hinos como “Crucificados pelo Sistema” — talvez o disco mais importante do punk/hardcore brasileiro — e faixas como “Agressão/Repressão”, “Beber Até Morrer” e “Anarkophobia”. Cada um desses sons não só exemplifica a evolução sonora do RDP, mas também carrega a crueza e revolta que a banda sempre cultivou ao longo dos anos. Se você nunca esteve em um show do Ratos, talvez não entenda a sensação de ver uma multidão ensandecida cantando esses hinos ao som de riffs cortantes e uma bateria que não perdoa. É um estado de anarquia organizada que poucas bandas conseguem reproduzir.
Momentos históricos não faltam. O Ratos de Porão estava lá quando o punk explodiu no Brasil, foi uma das primeiras bandas a abraçar o thrash e o crossover, e sobreviveu a múltiplas formações e tendências musicais sem perder sua identidade. Um dos momentos mais marcantes da carreira da banda foi a gravação do álbum “Brasil”, em 1989, que serviu como uma crítica ácida às desigualdades sociais e políticas que assolavam (e ainda assolam) o país. Não à toa, o álbum foi lançado por uma gravadora internacional, o que ajudou a consolidar o nome do RDP fora do Brasil. Outro marco foi sua participação no documentário “Botinada”, que narra a história do punk no Brasil e conta com depoimentos e histórias da banda, reafirmando sua importância não apenas para a música, mas para a cultura underground como um todo.
Agora, em 2024, o Ratos de Porão segue mais vivo do que nunca, com seu som brutal e suas letras ácidas ecoando como nunca. E, para coroar sua trajetória, a banda estará presente no line-up da edição brasileira do festival Knotfest, idealizado pelo Slipknot.