Quem estava no Allianz Parque no sábado, 19 de abril, para acompanhar o Monsters of Rock 2025, testemunhou um daqueles momentos que fazem valer cada minuto de uma vida dedicada à música pesada. O Judas Priest, com mais de cinco décadas de carreira, não só mostrou que ainda tem muita lenha para queimar, como entregou um dos shows mais vibrantes e tecnicamente impressionantes de toda a edição do festival. Era uma celebração em vários sentidos. Pelos 30 anos do Monsters, pelos 55 anos da banda e, principalmente, por ter Rob Halford em plena forma, reafirmando seu lugar como uma das maiores vozes do heavy metal.

O show começou com a intensidade que se espera do grupo britânico. “Panic Attack” abriu o caminho com a força de um soco bem dado, mostrando que a banda está atenta ao seu presente, sem viver apenas das glórias do passado. Mas quando essas glórias vêm, ninguém reclama. “You’ve Got Another Thing Comin’”, “Rapid Fire”, “Breaking the Law”, “Love Bites” e tantas outras faixas icônicas fizeram o Allianz tremer, com uma plateia que sabia cada riff, cada pausa, cada virada de bateria. E a resposta do público não poderia ser mais entusiasmada. Era um mar de vozes acompanhando cada grito de Halford como se estivessem diante de um ritual.
Aos 73 anos, Rob Halford impressiona não só pela capacidade vocal, mas pela presença cênica. Ele não precisa mais provar nada a ninguém, mas parece cantar cada verso como se fosse sua última chance de reafirmar seu legado. O alcance ainda existe, os agudos continuam impactantes e o domínio de palco é absoluto. Quando executa “Painkiller” ou encara os gritos dilacerantes de “Victim of Changes”, ele desafia as expectativas de qualquer um que ache que a idade enfraquece um verdadeiro frontman. E tudo isso com a classe e a autoridade que o consagraram como o “Metal God”.
Mas a performance do Judas Priest vai além de Halford. A banda como um todo soa afiada, coesa e apaixonada pelo que faz. Richie Faulkner, que carrega hoje o legado da guitarra deixado por K.K. Downing, entrega uma performance poderosa e segura, enquanto Ian Hill continua ali como pilar rítmico silencioso, presente desde os primórdios. Há também o peso simbólico de Glenn Tipton, homenageado no telão antes de “Victim of Changes”, lembrando que mesmo afastado por motivos de saúde, seu espírito continua cravado no DNA da banda.
O setlist foi pensado com inteligência, equilibrando clássicos com lados B que agradam os fãs mais atentos. “Devil’s Child” e “Riding on the Wind” são pérolas que muitos grupos de longa trajetória deixariam de fora. O Judas, ao contrário, parece entender exatamente o que seu público deseja. E entrega. Sem firulas, sem artificialismo. Apenas música pesada em estado bruto e direto.
No dia seguinte, a banda ainda fez um show solo na Vibra São Paulo, desta vez com o Queensrÿche como banda de abertura. Mas nada tirou o impacto da apresentação no Allianz. Ver o Judas Priest em um palco gigante como aquele, diante de milhares de fãs entregues à experiência, é mais do que um show. É um privilégio. Poucos grupos chegam tão longe com tanta vitalidade. E menos ainda conseguem soar tão relevantes em uma era em que muitos titãs do metal já se aposentaram ou viraram versões enfraquecidas do que foram um dia.
O Judas Priest segue na ativa com a dignidade que poucos têm. É uma banda que honra sua história sem se apoiar apenas nela. Que olha para frente, sem esquecer de onde veio. E que transforma cada apresentação em um testemunho vivo do poder que o metal ainda pode ter. Enquanto Halford estiver nos palcos, montado em sua moto, gritando para multidões, o heavy metal continuará muito bem representado.