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Poppy sempre dançou na linha tênue entre o pop e o experimental, mas em “Negative Spaces“, ela troca a brincadeira pela profundidade de um mergulho brutal. Esse álbum, o sexto de estúdio, marca uma nova fase na carreira da cantora. O conceito aqui é quase construtivo: como se cada faixa fosse um bloco sólido que ela esculpe em angústia, e o ouvinte se vê frente a frente com algo cru e feroz.

A produção de Jordan Fish (Bring Me The Horizon) traz uma sofisticação corrosiva, pincelando a influência do metal alternativo dos anos 90 com uma ferocidade hardcore inesperada, e Poppy usa essas transições de som como uma metáfora afiada para sua própria evolução.

Crítica: Poppy, "Negative Spaces" | Foto: Reprodução
Crítica: Poppy, “Negative Spaces”

O álbum é construído em torno de um conceito que conversa com o ouvinte sobre os espaços negativos da vida, aqueles lugares onde tudo parece suspenso, e os pesos do ontem e as promessas do amanhã coabitam em uma batalha incessante. Interlúdios dividem o álbum em capítulos, como um diário angustiado de um ser reflexivo. Poppy explora o autodesengajamento e as crises existenciais como quem sente o gosto do peso dessas questões, entregando letras poéticas, cheias de ansiedade, às vezes quase irrespiráveis. É raro ver uma artista desse porte assumindo tamanha vulnerabilidade.

Musicalmente, “Negative Spaces” é um emaranhado de gêneros metalcore, rock industrial e até pitadas de electropop. Esse mix não soa gratuito, pois Poppy orquestra essas escolhas para provocar no público uma montanha-russa de sentimentos. A influência de seu trabalho com “Knocked Loose” é presente em faixas como “The Center is Falling Out”, que exala uma brutalidade que desafia seu som anterior. Em “They’re All Around Us”, a combinação entre o estilo mais contido de Fish e as agressões sonoras revelam uma Poppy imersiva e transformadora, que nos faz questionar a nossa própria percepção de seus limites artísticos.

Poppy nunca foi uma artista de respostas fáceis, mas aqui ela parece estar em um ponto de ‘não-retorno’. Em vez de ampliar seu som, ela condensa, foca, e extrai a essência de cada gênero e de cada letra como se fosse a última vez que pudesse dizer aquilo. Para aqueles que esperavam um álbum pop metal, este disco é mais uma provocação de aceitação, uma exposição de sentimentos conflitantes como se cada faixa fosse um espelho que confronta o ouvinte com o lado escuro que geralmente preferimos esconder.

Nota final: 90/100

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