Com uma das presenças mais imponentes do deathcore atual, Alex Terrible se tornou um ícone do metal extremo. À frente do Slaughter to Prevail, o vocalista russo conquistou fãs ao redor do mundo com guturais animalescos, letras intensas e uma postura que exala brutalidade e autenticidade. Entre turnês explosivas, novos lançamentos e a constante reinvenção da banda, Alex nos concedeu uma entrevista exclusiva, falando sobre sua trajetória, o impacto da música e o futuro do Slaughter to Prevail.
A banda desembarca em terras Brasileiras no próximo dia 27 de março para show em Curitiba no Tork n’ Roll e 29 de março para um show em São Paulo, no VIP STATION

1. Há algo na forma como vocês fazem música que parece uma luta constante contra limitações, seja barreiras geográficas, questões de visto ou até mesmo expectativas. Em algum momento, essas dificuldades moldaram o som da banda de maneiras que você nem imaginava?
Tudo na minha vida afeta minha criatividade de alguma forma. No entanto, eu não diria que essas dificuldades tiveram um impacto significativo na nossa música. Nunca foquei muito nesses obstáculos quando enfrentamos barreiras geopolíticas ou geográficas. Mas, é claro, tudo deixa uma marca de forma indireta. Qualquer artista, músico ou pessoa criativa expressa suas emoções e seu mundo interior através do trabalho. Então, nesse sentido, sim, existe uma influência, mesmo que não seja direta.
2. Há uma energia brutal e visceral na forma como vocês constroem suas músicas. Mas se tirássemos o peso e a agressividade, o que restaria? Existe um conceito ou uma emoção específica que realmente define o Slaughter to Prevail no seu núcleo?
Por que tiraríamos o peso e a agressividade se isso faz parte intencional da nossa música? Seria como remover as guitarras ou a bateria da banda. Mas entendo a pergunta. Cada ouvinte encontra algo pessoal na nossa música. Não tento transmitir uma única mensagem definida. Meu objetivo é que cada pessoa tire algo significativo para si. Isso é o que realmente importa para mim.
3. A decisão de misturar russo e inglês nas letras não parece puramente estilística; parece haver um peso emocional mais profundo por trás disso. Como essas duas línguas se conectam na sua mente? Elas trazem nuances diferentes na forma como você se expressa?
Não, de forma alguma. Não há um significado profundo ou uma abordagem estilística por trás disso. Eu simplesmente escrevo letras em russo e inglês porque quero. Se eu tenho dificuldade para escrever uma música em russo, mudo para o inglês e vice-versa. Não há um grande conceito por trás disso — eu apenas faço o que parece certo no momento.
4. Muitas bandas ficam presas em uma identidade sonora fixa, mas vocês parecem ter uma abordagem mais fluida na evolução do metal extremo. Há algo que vocês ainda não exploraram musicalmente, mas que um dia pode se tornar parte do som da banda?
Sou completamente contra limites criativos. Quem disse que uma banda deve seguir um único estilo só porque começou assim? Se lançamos um álbum com um som específico e depois mudamos completamente, alguns fãs podem ficar irritados e podemos perder alguns deles. Mas, ao mesmo tempo, sempre ganhamos novos fãs a cada lançamento. O mais importante é que fazemos a música que realmente gostamos. Essa é a única regra que seguimos.
5. O deathcore passou por tantas fases que às vezes parece um gênero em constante reinvenção. Você acha que ainda há algo novo a ser explorado, ou algumas ideias já se esgotaram?
Essa é mais uma pergunta sobre rótulos e gêneros. Não sou fã de categorizar música em deathcore, grindcore, metalcore, e por aí vai. Para mim, tudo faz parte de uma coisa só: heavy metal. O deathcore, assim como qualquer outro subgênero, pode evoluir em várias direções. Mas, pessoalmente, eu não me importo com esses rótulos. Nós apenas tocamos música pesada. Isso é o que importa.
6. O Brasil é um dos maiores polos de shows ao vivo no mundo, e a indústria musical aqui prospera em todos os gêneros. Quais são suas expectativas para o show e para conhecer uma das fanbases mais apaixonadas do planeta?
Espero que o Brasil seja parecido com a Rússia em termos de cena de shows ao vivo. Nem tantas bandas fazem turnê lá com frequência, então quando fazem, os fãs dão 100% nos shows. É exatamente assim na Rússia — e agora ainda mais. Os fãs russos enlouquecem completamente nos shows, a ponto de tocar em outros países parecer menos intenso. Nos EUA, por exemplo, as pessoas já estão saturadas de tantos shows. Mas na Rússia, o público reage como se fosse o último show da vida deles. Espero ver essa mesma energia no Brasil. E mal posso esperar para experimentar isso.
7. Sua voz carrega um peso que vai além da técnica — há uma intensidade emocional enorme por trás dela. Quando você canta, o que realmente está acontecendo dentro de você?
Eu me esgoto completamente. Algumas pessoas criticam minha técnica, dizem que eu deveria fazer isso ou aquilo de forma diferente, que preciso aprender uma técnica específica. Para essas pessoas, eu digo: “F*-se.”** Eu grito como se fosse a última vez no palco. Coloco cada gota de emoção, poder e energia bruta nos meus vocais. É por isso que as pessoas se conectam com isso. Não me importo se eu perder a voz. Eu vivo e me apresento do meu jeito e dou tudo de mim em cada show.
8. As pessoas te veem quase como uma figura mítica — alguém que ultrapassa limites, seja na música, na performance ou até lutando contra um urso. Mas existe um lado seu que o público nunca vê? Algo que surpreenderia quem te acompanha?
Eu sou uma pessoa completamente diferente na vida real em comparação com o que se vê no palco ou nas redes sociais. No palco e em público, eu interpreto um certo papel, mas ainda assim, é parte de mim. Só que não mostro muito da minha vida privada. As pessoas não me conhecem de verdade. E é assim que eu gosto.
9. Você sempre parece disposto a ultrapassar os limites do que o deathcore pode ser. Isso vem de uma insatisfação com o que já existe ou é mais sobre querer criar algo que ainda não foi feito?
De novo, isso volta aos rótulos. Não me importo com como chamam nosso estilo — deathcore, metalcore, tanto faz. Isso não importa para mim. Eu faço a música que gosto, e meus companheiros de banda também. Não tentamos nos encaixar em um gênero específico. Apenas tocamos música pesada do jeito que queremos. E é isso que importa.
10. Sua presença de palco não é apenas intimidadora — é teatral. Quanto disso é instinto e quanto é algo que você desenvolveu ao longo do tempo?
Isso vem com a experiência. Eu tenho muita experiência tocando ao vivo. Eu não finjo meu personagem de palco. Sou eu mesmo, só que amplificado. Quando estou no palco, é o meu momento. Meu trabalho é garantir que as pessoas saiam impressionadas, que se lembrem dessa performance. Eu sei o que fazer para que isso aconteça. Talvez eu pudesse ter sido um grande ator, mas para ser ator, você precisa ser bom em mentir. Eu não minto. Eu simplesmente sou eu mesmo. E no palco, deixo minha insanidade explodir ao máximo. As pessoas adoram isso. Então eu continuo fazendo.
11. Se você pudesse sentar com o jovem Alex — aquele que começou postando covers no YouTube — o que você diria a ele sobre o que está por vir?
Eu apenas olharia para ele e diria: “Boa sorte, irmão.”
E então eu sairia com um sorriso no rosto.
Deixaria ele se perguntando pelo resto da vida se algo incrível está por vir ou se ele está prestes a enfrentar um caminho difícil.