Poucos festivais falam tão fluentemente a língua do metal quanto o Bangers Open Air. Realizado entre 2 e 4 de maio no Memorial da América Latina, em São Paulo, o evento reafirmou o que muitos já sentiam desde a edição anterior: estamos diante de um dos maiores encontros da música pesada no Brasil, não só em estrutura, mas principalmente em espírito.

Desde que surgiu como Summer Breeze Brasil, a proposta já era clara. Mas algo mudou em 2025. O Bangers deixou de ser uma promessa inspirada nos festivais europeus e se transformou em algo com identidade própria. Ele entendeu o coração do fã brasileiro de metal, e isso fez toda a diferença.
A experiência começa no momento em que você pisa no Memorial. É difícil explicar o que se sente, mas quem estava lá sabe: há uma energia específica, uma vibração que só existe quando o ambiente, o som e as pessoas estão em perfeita sintonia. O som limpo e potente, os palcos bem posicionados, a circulação livre, a área de descanso, a praça de alimentação com preços justos — tudo isso contribui para algo essencial: você se sente respeitado.
E quando um festival respeita o público, o público responde com intensidade. Era fácil ver nos olhos dos fãs, mesmo sob chuva, o brilho de quem está vivendo algo importante. Isso vale tanto para os mais velhos, que seguram a bandeira do heavy metal há décadas, quanto para os novatos que pisavam num festival desses pela primeira vez. O Bangers conseguiu unir gerações e estilos em um mesmo grito.
O line-up foi um acerto atrás do outro. Sabaton, Saxon, W.A.S.P., Avantasia… nomes que dispensam qualquer apresentação. Mas o que realmente mostrou maturidade na curadoria foi a presença de bandas como Black Pantera, Pressive, Dreamspirit, Dogma e o Municipal Waste destruindo tudo. O festival não se contenta com o previsível. Ele desafia, provoca, renova. E o público agradece.
A surpresa do Blind Guardian no lugar de última hora de outra atração foi um golaço. Hansi Kürsch e companhia entregaram um show técnico, emocional e poderoso. A reação da plateia foi imediata — parecia que estavam esperando por isso desde 2002. E estavam.
Tem também um detalhe que quem é do meio repara: a organização não falha. Segurança discreta, acesso rápido, banheiros limpos, respeito à pontualidade, equipe cordial, imprensa bem recebida. Isso mostra o cuidado com todos os aspectos da experiência. O Bangers é feito por quem conhece o terreno que está pisando. E isso transparece.
Outra coisa que merece destaque é a confiança do público. Os blind tickets esgotam antes mesmo do line-up ser anunciado. Isso acontece quando existe um histórico sólido, quando quem compra sabe que vai receber algo à altura. Isso é raro. E precioso. Mostra que o festival virou uma referência, uma espécie de ritual anual. Três dias para sair do mundo e entrar em outro, onde a música é a única lei.
No fim do domingo, com o eco dos últimos riffs no ar, o sentimento era de plenitude. Quem esteve ali saiu com a certeza de que viveu algo grande. Não foi só um show. Foi um encontro, uma celebração, um respiro. O Bangers Open Air é hoje o festival mais importante do metal brasileiro. Não porque tem o maior palco ou a maior estrutura, mas porque entendeu — de verdade — o que o metal representa para quem vive isso com o coração.