Vinte e um anos depois da estreia no festival, o Korn enfim assumiu o palco principal do Download como atração principal. Para quem tem acompanhado os últimos anos da banda, a promoção já parecia tardia. Eles tinham o repertório, o público, a entrega e, sobretudo, a história. Mas o gesto simbólico de colocá-los no topo da programação serve como chancela final ao legado que ajudaram a moldar. Em 2025, com o nu metal reassumindo espaço, a escolha soa menos como ajuste de contas e mais como inevitabilidade.

Jonathan Davis entra com o clássico grito de guerra “Are you ready?” e a banda irrompe com uma versão crua e violenta de “Blind”, aquele mesmo primeiro ataque que, em 1994, deixou o mundo em alerta. O tempo passou, mas o impacto permanece. Quem circulou pelo festival já havia percebido o ambiente propício. Do público inflado do Alien Ant Farm à sonoridade híbrida de nomes como Poppy, o Download atual respira as distorções e pulsações do gênero que o Korn ajudou a esculpir. O set funciona menos como revival e mais como afirmação de território.
Davis percorre o palco como se comandasse uma cerimônia. E de certo modo, comanda mesmo. “Here to Stay” vem logo em seguida, com os graves vibrando como se a terra estivesse prestes a rachar. A frase entoada por ele, “Korn está aqui para ficar, filhos da puta”, deixa claro que este não é apenas um show celebratório, mas um ponto de virada. Um momento que reposiciona o Korn na prateleira mais alta da música pesada contemporânea.
A partir dali, tudo flui com precisão. “Got the Life”, “Clown”, “Did My Time”. O show não se arrasta, não se dispersa. Funciona como uma sequência pensada para evidenciar coesão, não saudosismo. Jonathan retoma o scat em momentos pontuais, saca a gaita de fole em “Shoots and Ladders”, mistura trechos de “One”, do Metallica, e os arranjos grotescos entre baixo e guitarra reforçam o contraste entre brutalidade e controle.
Não há exageros visuais. Nada de palco cenográfico ou explosões temporizadas. Só luzes mutantes, densidade sonora e um repertório que atravessou décadas sem perder relevância. O retorno de “Twisted Transistor” ao set britânico, ausente há anos, reforça a fluidez do repertório, que avança com “ADIDAS” como se nada tivesse envelhecido. Ray Luzier, na bateria, parece possuído por alguma força cinética absurda. Cada baqueta soa como se estivesse impulsionando a sobrevivência da banda em tempo real.
Davis, entre uma música e outra, relembra que tocaram naquele mesmo festival quando ele ainda se chamava Donington. O comentário carrega peso histórico. O Korn passou por todos os ciclos. Auge, rebaixamento, redescoberta. Agora parece ter encontrado o eixo definitivo.
Na reta final, o impacto se intensifica. “Y’all Want a Single” vem como uma provocação direta. Depois, a sequência com “4U” e “Falling Away From Me” transforma o encerramento em um mergulho emocional. Mesmo com as críticas históricas ao nu metal e às distorções culturais do início dos anos 2000, o Korn continua como um ponto de fuga poderoso para quem nunca se encaixou. E nunca tentou.
O fim chega com “Freak on a Leash”. O coro coletivo, as serpentinas, o eco prolongado. Tudo aponta para o óbvio. O Korn não reivindicou espaço. Conquistou. Ao lado de nomes como Metallica, Sabbath e Guns N’ Roses, a banda agora entra para a galeria dos que marcaram o festival como protagonistas. Não por nostalgia, mas por consistência.
O Korn encerra o Download 2025 como deveria ter feito anos atrás. No topo. Sem concessões. Sem filtro. E sem qualquer dúvida sobre o lugar que ocupa.