Fabio Lione por uma noite de magia sinfônica em Porto Alegre

O Teatro AMRIGS de Porto Alegre foi palco de uma noite inesquecível, onde som, imagem e emoção se fundiram em uma experiência artística marcante. O evento apresentou duas propostas distintas e complementares: a força emergente da banda Dogma e a consagração absoluta de Fabio Lione, acompanhado por uma orquestra. Um encontro entre o novo e o consagrado, entre o peso do metal e a sofisticação orquestral, que conquistou completamente o público gaúcho.

Dogma: ousadia, identidade e potência cênica

A abertura ficou por conta da Dogma, que às 19h cravou sua presença com autoridade e originalidade. Vindas do sucesso no Bangers Open Air, as quatro integrantes subiram ao palco com estética e presença marcante: trajes que mesclavam o imaginário religioso e o universo do metal, performance teatral e uma atitude que capturou o público desde os primeiros acordes.

Mais do que imagem, porém, a Dogma entregou conteúdo. O show foi firme, coeso e imerso em intensidade. Combinando riffs afiados, uma base rítmica sólida e uma vocalista em pleno domínio vocal e expressivo, a banda ofereceu um repertório que oscilou entre agressividade e lirismo, sempre mantendo o foco e a energia no topo.

Destaques como “Forbidden Zone”, “Made Her Mine”, “Carnal Liberation” e a provocativa “Father I Have Sinned” demonstraram a amplitude da banda. O cover de “Like a Prayer”, de Madonna, mostrou ousadia estética e originalidade interpretativa, misturando o sagrado e o profano com força simbólica. A catarse veio com “The Dark Messiah”, encerrando a apresentação com intensidade épica.

Um dos momentos mais memoráveis foi quando a baixista desceu até o público, criando um elo direto com a plateia. Outro ponto alto foi o retorno da vocalista ao palco com uma coroa de santa, gesto simbólico que reafirmou a dimensão performática e conceitual da banda. Com um show bem arquitetado e visualmente impactante, a Dogma se reafirma como uma das formações mais promissoras do metal nacional.

Fabio Lione: emoção, excelência e grandiosidade

Com o público já aquecido, às 20h10 as luzes baixaram para anunciar o momento mais aguardado da noite. A orquestra tomou seus lugares sob aplausos entusiasmados, preparando o terreno para a entrada triunfal de Fabio Lione. Recebido com uma verdadeira ovação, o vocalista italiano mostrou desde o primeiro momento por que é um dos grandes nomes do metal sinfônico mundial.

Dotado de uma voz potente e versátil, Lione navegou com naturalidade entre registros épicos e momentos de lirismo, sempre com precisão técnica e carga emocional. Mas sua força vai além da voz: é presença, é carisma, é comunicação. Em diálogo constante com a plateia, guiou os espectadores por uma jornada musical que transitou entre o dramático e o sublime, sempre com uma leveza cênica que tornou o espetáculo ainda mais próximo e humano.

O ponto alto foi a execução completa da obra-prima “Symphony of Enchanted Lands”, do Rhapsody, agora renovada com um tratamento sinfônico que potencializou sua dimensão épica. Cada faixa, de “Epicus Furor” a “Emerald Sword”, passando por “Wisdom of the Kings” e “The Dark Tower of Abyss”, ganhou nova vida, revelando o cuidado nos arranjos e a perfeita simbiose entre a banda e a orquestra. Foi uma aula de como fundir metal e música clássica sem perder autenticidade.

Um segundo ato igualmente arrebatador

Na sequência, o segundo set elevou ainda mais a noite. Clássicos como “Knightrider of Doom”, “Rain of a Thousand Flames”, “Holy Thunderforce” e a belíssima “Lamento Eroico” mantiveram o público em estado de encantamento. A interação entre os músicos, o coro e a orquestra atingiu o auge em “The Wizard’s Last Rhymes”, verdadeira pintura sonora que uniu delicadeza e intensidade.

Um momento especialmente inusitado e cativante veio com a homenagem ao cinema de horror italiano: Lione falou com paixão sobre Dario Argento e a banda Goblin, revelando seu lado cinéfilo e eclético, mais uma camada de profundidade artística em um show já rico por si só.

Uma celebração que ficará na memória

O encerramento com “Dawn of Victory” foi apoteótico. O Teatro AMRIGS inteiro se levantou em coro, transformado em uma catedral do metal. Era evidente: ninguém queria que a noite terminasse. Fabio Lione não apenas entregou um espetáculo, ele criou uma experiência, um rito coletivo de beleza, poder e emoção.

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