Um show do Opeth não costuma ser sinônimo de diversão leve ou interação descontraída. Ainda assim, foi exatamente isso o que aconteceu durante a apresentação da banda sueca no Monsters of Rock 2025, em São Paulo. Em meio a um repertório repleto de canções longas, complexas e muitas vezes sombrias, o grupo conseguiu criar uma atmosfera estranhamente divertida. E muito disso veio da espontaneidade de Mikael Åkerfeldt, vocalista e cérebro por trás da proposta sonora do Opeth.

O sol ainda marcava presença no Allianz Parque quando a banda subiu ao palco por volta das 13h. Era a segunda atração do festival e começava um pouco deslocada em relação ao resto do line-up, que incluía nomes mais tradicionais como Stratovarius, Scorpions, Europe, Judas Priest e Savatage. Enquanto os outros apostavam no hard rock, no heavy clássico e no power metal mais direto, o Opeth entregou uma mistura sofisticada de death metal, rock progressivo e camadas de atmosferas densas.
A abertura com “§1”, faixa do álbum mais recente, “The Last Will and Testament”, lançado em 2024, já mostrava que o show não seria uma jornada de grandes sucessos ou refrões fáceis. Ao contrário, o repertório foi curto e focado, com apenas sete músicas. Boa parte veio da fase mais pesada da banda, principalmente do início dos anos 2000, quando os vocais guturais ainda dominavam.
O que surpreendeu, porém, foi o contraste entre o peso da música e o humor leve das interações de Åkerfeldt com o público. Chamou os fãs de forma irreverente, brincou com sua idade, elogiou a comida brasileira e fez piada até sobre os efeitos colaterais do cardápio local. Em vez da rigidez técnica que se espera de um grupo desse porte, o vocalista parecia à vontade para rir de si mesmo, zombar da própria banda e conversar com a plateia como se estivesse entre amigos.
Entre uma faixa e outra, Mikael comentou sobre o novo disco, sugeriu com ironia que ninguém poderia discordar de sua qualidade e ainda provocou o público a guardar energia para cantar junto com Europe e Scorpions mais tarde. A resposta da plateia foi uma mistura de surpresa e entusiasmo. Muita gente parecia estar vendo o Opeth pela primeira vez, sem entender muito bem a proposta logo de cara, mas se deixou levar à medida que o set avançava.
A reta final do show foi marcada pelos momentos mais acessíveis do repertório. “Ghost of Perdition” uniu peso e sofisticação com uma fluidez impressionante, sendo um dos pontos altos da apresentação. Em seguida, veio “Sorceress”, que dentro dos padrões da banda quase poderia ser chamada de radiofônica. Durante a troca de instrumentos no palco, os fãs puxaram gritos de “olê, olê, Opeth, Opeth”, mesmo sem incentivo direto do vocalista. A essa altura, parecia claro que mesmo quem não conhecia o grupo tinha embarcado de vez na experiência.
O Opeth talvez tenha sido a banda mais fora do padrão do festival. Musicalmente, exigiu atenção. Tecnicamente, entregou com precisão. E no fim das contas, mesmo com set curto, horário ingrato e um line-up pouco compatível, conseguiu conquistar o público com naturalidade, autenticidade e uma dose inesperada de bom humor. Para quem conhece a banda, foi mais uma confirmação do talento absurdo dos suecos. Para quem viu pela primeira vez, talvez tenha sido um convite para mergulhar num catálogo que não facilita, mas recompensa.

