Com a chegada do Bring Me the Horizon ao Brasil em 2024, revisitar “Post Human: NeX GEn” torna-se uma oportunidade interessante para entender o mundo que a banda britânica desenhou em seu sétimo álbum de estúdio. Surpreendendo seus fãs com o lançamento no final de maio de 2024, o disco é uma continuação da série “Post Human”, que começou com o intenso “Post Human: Survival Horror” em 2020. Mais do que uma nova coleção de faixas, “NeX GEn” representa um momento de transição com a saída do tecladista Jordan Fish, cuja presença foi um marco na sonoridade da banda.
Se “Survival Horror” ficou marcado por uma tentativa, quase obsessiva, de unir o metal ao power pop e ao mainstream, “NeX GEn” surge mais robusto e certeiro, revelando um lado mais experimental e menos ansioso do grupo. É um disco com um pé firme no hyperpop, onde elementos como sintetizadores frenéticos e sons dissonantes carregam uma intensidade capaz de desorientar e surpreender o ouvinte, algo que faltou no EP anterior.
Desde os primeiros acordes de “DiE4u”, lançado ainda em 2021, até o single mais recente “Top 10 Statues That Cried Blood”, o disco abraça texturas eletrônicas arrojadas. Influências de bandas como Deftones em “liMOusIne” e um toque de Smashing Pumpkins em “n/A” enriquecem a experiência sonora, sem perder o peso característico da banda. Em alguns momentos, a produção hiperdetalhada lembra o caótico e abrasivo som de 100 gecs, especialmente nos breakdowns eletrônicos, que contrastam com a voz de Oli Sykes em um misto de autotune e efeitos sintéticos, resultando numa atmosfera simultaneamente familiar e inovadora.
Onde “Survival Horror” falhou em soar pesado de verdade, “NeX GEn” corrige o rumo. As guitarras finalmente ganham a potência necessária, assumindo seu lugar na mixagem com riffs mais corajosos e uma percussão que não hesita em ser agressiva, criando uma parede sonora que sustenta as faixas mais impactantes. Essa é a pegada que remete à época de “There Is a Hell…”, mas com um toque de modernidade, algo bem próximo ao cenário do metal pop que Bad Omens popularizou em 2022. Isso, claro, sem deixar de lado o fator choque, seja nas linhas de synth ou nos samples que surgem inesperadamente em meio às músicas.
Entre as composições mais interessantes estão “YOUtopia”, “DArkSide” e “LosT”, faixas que capturam o equilíbrio entre a fúria e a melodia, e são quase uma amostra do que Bring Me the Horizon busca hoje: um som acessível, mas sem perder o peso. A participação de AURORA em “liMOusIne” adiciona um contraste vocal surpreendente, enriquecendo a faixa com camadas etéreas e um toque de vulnerabilidade. Já “AmEN!”, que traz Lil Uzi Vert e Daryl Palumbo do Glassjaw, é uma experimentação pura, um delírio de influências que combina rap, metal e hardcore, um ponto alto que beira o insano.
A evolução da banda em direção a uma produção mais hiper-realista e um som mais polido, ainda que audaz, traz uma certa superficialidade em alguns momentos. Apesar do alto nível técnico, o álbum parece, por vezes, focado mais em aumentar o volume do que em adicionar profundidade. É como se o Bring Me the Horizon estivesse apostando numa estética explosiva que chama atenção, mas sem o mesmo impacto de álbuns anteriores. No entanto, o álbum se salva pelo seu desejo de romper com o previsível, mesmo que pareça às vezes correr atrás do que bandas como Bad Omens e Poppy já fizeram.
“Post Human: NeX GEn” é uma tentativa bem-sucedida de reposicionar o Bring Me the Horizon na vanguarda do metal moderno, mostrando que a banda ainda possui o ímpeto de desafiar expectativas. Em um mundo onde o metal pop está cada vez mais saturado, este álbum destaca-se por sua produção quase teatral e a coragem em explorar o novo. Fica a pergunta: até onde o Bring Me the Horizon conseguirá ir antes que esse som perca a força? Por enquanto, eles ainda lideram o jogo, mesmo que apenas por um fio.
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